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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Resenha da obra " A Partitura de Clara", de Silvia Gerschman

Título: A Partitura de Clara
Autor(a): Silvia Gerschman
Número de páginas: 200 páginas
Gênero:  Romance Histórico 
Editora: Penalux
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Disponível para compra na Editora Penalux

Livro recebido da editora em parceria com Érika do blog Coruja Geek.
O desenrolar da obra se dá em dois planos: no primeiro, dois pesquisadores de historia contemporâneos, o francês Patrick e a brasileira Anna, dedicam-se a procurar a partitura perdida de uma obra de Clara Schumann e, em segundo plano, lemos a trajetória da pianista e compositora.


Segundo o jornalista e escritor do “O Globo”, Elias Fajardo: “Ao longo de toda a narrativa, a autora consegue um bom equilíbrio entre a pesquisa histórica aprofundada que realizou sobre a época e os protagonistas que escolheu desenvolver e a construção de uma linguagem sensível, destinada a interessar e seduzir o leitor.”

O livro " A Partitura de Clara" é um romance histórico, cujo qual, intercala entre passado e presente. Acredito que seja precioso e bem sucedido ao transmitir uma mensagem valiosa e despertar certos questionamentos através da pesquisa necessária realizada. Outrossim, a ousadia de ser um romance histórico não convencional. E clara, uma mulher que se impunha e não abria mão de seus desejos e paixões considerada a frente de seu tempo para os padrões impostos da época.


Ademais, aproveita para abordar temáticas importantes como problemáticas sociais da época. E a forma como ainda, se refletem muito nos dias atuais, infelizmente. Tal como, paradigmas exigidos pela sociedade, questiona a delicadeza sujeita ao feminino, evoca tabus e crenças tóxicas, fofoca e julgamento, violência doméstica, regras de conduta do comportamento submisso relacionado a mulher e obediência pregada pela moralidade arcaica originada de uma estrutura tradicional e religiosa contribuindo à disseminação de valores misóginos e sexistas. Incluindo, a inferiorização, bem como opressão ao gênero feminino e a classe menos privilegiada não pertencente a burguesia sendo seres humanos marginalizados.

Em contrapartida, somos capazes de acompanhar o esclarecimento do mistério para, finalmente, saber que fim levou a partitura perdida da aclamada e famosa compositora e musicista Clara Schumann. Será realmente verdadeira a sua existência? Unidos por uma mesma paixão pela arte e a literatura contextualizada em todas suas vertentes, certo tema e interesse em comum, acaba proporcinando um encontro entre ambos. A partir daí, Anna, do Rio de Janeiro e seu amigo francês Patrick vão embarcar nessa longa jornada. Na sequência, ao viajar para uma cidade Alemã, o melhor é optar por fazer um roteiro sobre como podem trabalhar em Leipzig em busca da partitura. Então, contatando descentes da grande pianista de sucesso, já é algo mais consistente e preciso para decidir qual maneira  mais eficaz se deve prosseguir desse ponto de partida. 

Ambos tratávamos de aprofundar nas letras e na arte brasileira o conhecimento da influência francesa e europeia, desde finais do século XIX, época em que a evolução tecnológica do transporte internacional facilitou em muito o fluxo de artistas e intelectuais entre a França e o Brasil.

Penso que, realmente, sei apreciar uma trama excelentemente elaborada. E por sua vez, traz críticas aos saqueadores de riquezas nazis, que perseguiram e massacraram com crueldade e ódio ao povo judeu, as feministas, os homossexuais, os negros e as outras minorias. Ou seja, todo aquele considerado inadequado ao governo fascista de Hitler e superioridade a raça ariana, presente na ideologia da Alemanha nazista. A propósito, são citadas entidades e organizações anônimas derivadas do mesmo e empenhadas em alastrar e executar a ideologia nazista. 

Na minha opinião, tudo se torna ainda melhor, pelo fato da obra contar com uma escrita fluída, envolvente e empolgante. Além de trazer uma narrativa bem construída. Está claro que, desde o início, fiquei interessada por se passar nessa época muito rica em transformações estéticas e políticas na Alemanha. Assim como, pelo motivo de envolver música e a trajetória dessa protagonista. Uma vez que, particularmente, aprecio essa parte histórica. Porque sempre gostei bastante de estudar História. Aliás, achei incrível introduzir esses dois pesquisadores de história contemporânea em primeiro plano, na busca construtiva da partitura perdida dessa figura histórica. 

Enfim, certamente, a linguagem consegue seduzir o leitor para esse enredo atraente. Portanto, sem dúvidas, é maravilhoso acompanhar essa história arrebatadora e emocionante em dois planos. O que torna a trama única e tecida com maestria. Pois garante uma leitura agradável e repleta de emoções. Tal qual, envolve descobertas ao mesmo passo em que aborda problemáticas sociais importantes como a reflexão a respeito do papel da mulher imposto na sociedade machista em seu princípio patriarcal da época. Cujo qual, insistia em silenciar vozes femininas. Se não, apagá-las completamente.

Conseguiu vislumbrar, mesmo com tanta tristeza, que a vida valia a pena e que entrava numa fase de liberdade para sua dedicação à música. Poucas pessoas têm a fortuna de viver de ilusões e poucas reconhecem suas ilusões plenamente. Com Clara houve essa junção virtuosa, ela nunca desistiu de si mesma.

Sobre a Autora

Silvia Gerschman nasceu em Buenos e mudou-se para Rio de Janeiro, em 1977. Graduou-se em sociologia e fez doutorado em Ciências Sociais. Publicou vários livros, sobre este campo da ciência, dentre esses "A Democracia Inconclusa. Um estudo da Reforma Sanitária Brasileira", "A Miragem da Pós Modernidade. Democracia e políticas sociais no contexto da globalização", "Saúde e Políticas Sociais no Rio de Janeiro".

Nos últimos três anos, a autora, desenvolveu diversos cursos de literatura no Estação das Letras acrescentando a produção de contos, poesias e romances. Com colegas de curso e a guia de um grande mestre, José Castello, criaram um grupo de contos chamado "Os Quinze". Publicaram o primeiro livro, sob a coordenação de Castello, uma coletânea titulada, Contágios (Oito e meio).
Além da publicação atual "O Renascimento em outras terras", várias outras obras estão em andamento e em fase de publicação, na convicção, da autora, um bom escritor é capaz de conduzir a sua criatividade para além de géneros e temas literários.
A consciência do meu pensar não é eventualmente algo contingente ao meu pensar...a consciência imediata do pensar é idêntica a estar consciente de si. Devido à celeridade com que acontece, ela é denominada intuição. Ambos eram fervorosos partidários do romantismo e tinham uma rixa perpétua com Wagner, a quem identificavam como pertencente à escola clássica, um conservador. ( Referência à Clara e Robert Schumann).

7 comentários:

  1. É interessante quando a ideia de um romance de época traz uma temática atemporal, que nos faz olhar para o passado e refletir sobre o que ainda fazemos de errado enquanto sociedade para continuar do mesmo jeito ou, em certos casos, pior. Gostei de sua indicação, não conhecia e espero ter oportunidade de ler.

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  2. Essa, acho, foi a resenha mais bem escrita que eu vi! Caramba, muito bom, Debs! Eu gostei bastante da premissa, acho ficção histórica sensacional. Já tinha ouvido falar nesse livro, mas ainda não o li. Quero bastante. As críticas sociais são incríveis, né? <3

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  3. Oioi! Adoro romances históricos que adotam essa narrativa intercalada. Li um nesse estilo, A Irmandade Perdida, que me conquistou completamente. Agora, fiquei muito curiosa sobre esse por conta da questão da música, que muito me atrai. Certamente as críticas contundentes e conhecimentos da história da época derivados da leitura também serão muito bem-vindos. Ótima indicação. Abs!

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  4. bacana sua resenha, adoro livros que tem essa ideia de refletir ações e comportamentos que não mudam.

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  5. Oi Debbie, tudo bem? Achei tão legal você ter aceito o convite para conhecer essa obra. Espero que no futuro possamos compartilhar novas experiências literárias. Gostei muito do enredo da obra principalmente pelos dois momentos apresentados pela autora. Um trabalho de pesquisa demanda tempo, cuidado, paciência e muito tato com tudo o que será escrito. Concordo com você, alguns períodos históricos são muito ricos e cheios de detalhes o que traz uma riqueza ainda maior à narrativa. Obrigada mais uma vez por aceitar o convite. Um abraço, Érika =^.^=

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  6. Ola, Debbie. Nossa, eu tbm sou fascinada em história, ainda mais tudo que remete a época das guerras do século XX. Não conhecia esse romance histórico, achei interessante os pontos critico-sociais que ele aborda.
    Linda essa capa, viu? Achei poética, tem tudo a ver com a proposta do título...
    Tschüss 😘

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  7. Oi Débora,
    Tenho aprendido a gostar muito de romances historocos... Follett é um autor que me fez aprender a olhar com bons olhos para esse tipo de literatura.
    E, embora eu tenha certa dificuldade com enredos que envolvam o nazismo, parece que essa história é bastante interessante e tem até aquele "quê" de aventura/diversão. Adorei conhecer mais sobre ele. Parabéns pela resenha.

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